Esperamos que estejam ainda nos acompanhando e ansiosos pelas respostas. Lembrem que elas ficarão aqui e que, caso não possa ou não queira ler agora, é sempre possível ler depois. Vamos então a uma pergunta que também vem de forma indireta.
Em geral, as pessoas nos dizem que sonham morar num trailer e daí começa uma discussão mais detalhada:
Como tivemos a ideia da expedição
De onde saiu esse nome entreparquesbr
O que queremos com isso tudo
Quanto custa a expedição
Qual nosso parque favorito
Como é morar num trailer
O que vamos fazer depois da expedição
O trailer até agora foi, sem a menor dúvida, a melhor forma de visitar os parques nacionais na sequência com conforto e liberdade, aproveitando diferentes e lindos quintais, com custo mais baixo que muitas outras modalidades de viagem.
Mas o Brasil não é preparado para receber trailers. É possível viajar por aí com um, mas dá bastante trabalho e, ao contrário do senso comum, não há glamour. Vamos por partes.
Sim, o trailer foi uma decisão muito acertada. Sem ele não conseguiríamos ter chegado onde chegamos. Ter a possibilidade de deixar o trailer durante o dia em um local e seguir de caminhonete nos dá muita liberdade e autonomia.
Ter a nossa cama feita, nosso armário, nossa cozinha e banheiro para o retorno permite que consigamos manter uma rotina, além de reduzir custos de estadia e alimentação.
A gente vive mais para fora do que para dentro do trailer. Ouvindo as aves, sentindo o vento, acompanhando as fases da Lua. Foi esse um dos motivos que permitiu que trocássemos nosso trailer por um (bem) menor, onde temos na área fechada basicamente uma cama e um guarda roupas.
Nossa cozinha, banheiro e "sala" ficam para fora. Como ficamos para fora, por que tanto espaço interno?


Na maior parte dos dias não há nenhum inconveniente, mas a chuva, o vento, o sol forte do meio-dia, o som alto em alguns lugares e a falta de privacidade fazem com que tenhamos que ficar para dentro de vez em quando. É pequeno, mas é suficiente para nós dois.
Isso é bom quando não faz muito calor, porque a verdade é que nosso ar condicionado nunca funcionou direito. À noite, se não houver barulho (geralmente não, há além da natureza), abrimos as janelas e o trailer é fresco, mas nem sempre dá para passar o dia ali dentro.
Nos pegamos às vezes dizendo que vivemos com pouco. Mas paramos no meio da frase. Hoje vivemos com menos coisas do que antes, mas não é pouco. Vendo como vive grande parte da população do nosso país, vivemos com muito conforto.
Além disso, convivemos e vemos cada vez mais pessoas vivendo e viajando em estilos alternativos. Gente que mora em motorhomes ou em carros. Gente que viaja o país todo de ônibus, de bicicleta, de carona ou mesmo a pé. Gente que viaja sozinha ou em família. Com ou sem crianças, com ou sem pets. Brasileiros e estrangeiros. Cada um com seu estilo e seus limites do que acha confortável ou suficiente para viver. É incrível ver tudo isso.


Chegar aos arredores ou dentro de um parque nacional com sua casa nas costas tem um efeito muito especial. Ficamos com frequência no meio do mato, em lugares incríveis onde não há estrutura de pousadas, onde a luz é baixa, onde o som é da água corrente ou das aves.
Além disso, a vida para fora do trailer nos permite conhecer muitas pessoas: dos donos de camping a viajantes. Há sempre boas histórias e convivências. Além de muitos cachorros e gatos carinhosos vindo dar bom dia. Já perdemos as contas dos pets que adotamos temporariamente.
No entanto, o Brasil não está preparado para receber trailers grandes. As estradas são esburacadas, as ruas não são planejadas e não há local próprio para descarte adequado dos resíduos. Em alguns pontos da região sul e ao longo do litoral há uma infraestrutura mais pronta, mas ainda insuficiente. Nos demais pontos, descartar os resíduos é bastante trabalhoso.
Descartar resíduos significa tirar o esgoto do trailer. Em trailers grandes como o que tínhamos no início, isso era feito a cada seis dias por um cano. Como nem sempre havia onde ligar esse cano à rede de esgoto, esgotávamos numa caixa própria chamada "leão", levávamos o leão até uma privada e descartávamos ali.

Com a mudança para o trailer menor, optamos por um porta-potti. É uma privada com cara de normal, mas portátil. Ela comporta até 2-3 dias de dejetos, que esgotamos em uma privada normal ou na rede de esgoto, se houver abertura própria. Mas é bem mais leve e fácil de executar. Fazemos com maior frequência, mas com mais facilidade. Em qualquer lugar há uma privada.
Dizem que no Brasil as pessoas se adaptam a tudo. Já ficamos em pousadas, reservas ecológicas, chácaras e até estacionamentos. Muitos locais que nunca haviam recebido um trailer toparam nos receber, aprenderam conosco e hoje recebem trailers como parte de seu dia a dia.
O trailer é sim um local apertado, nossa cama tem pouco mais de 1,2 metro de largura, uma cama de casal "normal” tem 1,38m. Não dá para ficar em pé dentro dele. Mas cabem nossas roupas, panelas, comida e sapatos, ele é leve e pode ser manobrado manualmente, não dá medo de entrar num beco sem saída.
Os hábitos de compra tiveram que mudar, pois embalagens de vidro não são aconselhadas e o espaço para estoque é limitado. Preferimos estocar aquilo que é mais difícil de encontrar por aí. Como não comemos carne, lentilhas e grão de bico estão nos ítens mais estocados. Tudo o que é perecível compramos em feiras locais, o que adoramos fazer, mas o que requer traslados mais constantes.
Muita gente que encontramos nos diz que seu sonho era viver em um trailer. O nosso nunca foi, mas está sendo ótimo viver em um. Sabemos que é algo temporário, não temos a intenção de seguir para sempre nesse estilo de vida. Sentimos falta de um chão que não se movimente, de uma terra para ter uma horta e plantas, das minhocas da nossa composteira, de um mercado familiar perto de casa, de receber visitas dos amigos, de ir ao banheiro e não pensar que aquilo que "foi", ainda precisa “ir de verdade".
Dizem que tudo tem vantagens e desvantagens, e que tudo passa. Pois bem, o trailer é sim a melhor opção para mantermos o estilo de vida que temos hoje. Mas o estilo de vida que temos hoje não é o objetivo, mas o meio que encontramos para atingir o nosso.